Relacionando a estética do Teatro do Oprimido com a estética que trabalho.


     Estética é definida como o estudo sobre a beleza e seus reflexos na criação artística, bem como o equilíbrio de formas. A estética teatral formula as leis de composição e de funcionamento do texto e da cena.
“A estética, ou ciência do belo e filosofia das belas artes, é uma teoria geral que transcende as obras particulares e dedica-se a definir os critérios de julgamento em matéria artística e, por tabela, o vínculo da obra com a realidade.” (Pavis,Patrice, Perspectiva,3ª Ed. P.145).

     Na obra "Teatro do oprimido e outras poéticas políticas" do Autor Augusto Boal, fala que teatro do oprimido é um método prático em que a estética conduz a possibilidades produtivas e criativas de apresentar a realidade por meio da Palavra, do som e da imagem e consiste em misturar imagens ou sensações de natureza distinta. A percepção simultânea de tipos, sensações e imagens artísticos promove e impulsiona o autoconhecimento, a autoestima e autoconfiança com o propósito de transformar a realidade.

     O Teatro do Oprimido está organizado em formas/ técnicas de ações dramáticas que são: Teatro jornal, Teatro fórum, Teatro imagem, Teatro do invisível entre outros, acrescentando sempre que para Boal teatro é a vida é a ação.

     Atuam nesse teatro pessoas comuns, sem formação em trabalho de ator, e também pessoas com formação em trabalho de ator, ou seja “atores e não – atores”, pois Boal acreditava que todos são atores, “Todos os seres humanos são atores – porque atuam – e espectadores – porque observam. Somos todos ‘espect-atores.’”(Boal, Augusto), e que o teatro é uma ferramenta transformadora de realidades onde pode-se ver a relação de “oprimidos e opressores” e transforma-la ou seja esse teatro tem como base a transformação deste espectador, que assume a forma de sujeito atuante transformando a ação que lhe é apresentada teatralmente, tornando em um ensaio para que quando lhe for apresentada a mesma situação de opressão ele possa agir e transforma-la deixando de ser oprimido.

     Uma das propostas trazida por Boal para a preparação do ator era valorizar a emoção, pois não queria que os “espec-atores” representassem sem sentir nada, para isso antes de serem aplicados os jogos teatrais eram apresentados exercícios musculares, exercícios sensoriais, exercícios de memória, exercícios de imaginação e exercícios de emoção, pois dessa forma adequada e eficaz o atuante transmitiria ao espectador emoções iguais as suas então teria identificação com o que é apresentado.

     Através de Jogos, exercícios e técnicas teatrais é que o Teatro do Oprimido procura estimular a discussão de problemas enfrentados no dia- a- dia com o objetivo de se fazer uma reflexão das relações através de histórias de oprimidos e opressores.

     Os temas trabalhados nesse tipo de teatro e os diálogos dos personagens são decididos pelos participantes e reflete a realidade da comunidade onde esta sendo exercido o trabalho, geralmente temas cotidianos.

     Segundo Boal o teatro pode acontecer em qualquer lugar inclusive dentro dos teatros. Isso quer dizer que pode acontecer dentro de espaços escolares, espaços de educação informal (igrejas, centros de assistência social e etc.) ônibus, ruas, praças e etc.

     O “espec-ator” que assiste e faz teatro, assiste sua vida que também está no teatro é um tipo de beleza que constrói, transforma essa é a estética do Oprimido.

     Relacionando a estética do Oprimido de Augusto Boal com o trabalho que exerço no Projeto de extensão Quilombo das artes reconheço alguns elementos que se aproximam de tal estética.  

     O projeto Quilombo tem por objetivo desenvolver na comunidade do Bairro navegantes, bairro de periferia desta cidade, a (re)educação para o uso adequado do tempo livre, através de oficinas permanentes de teatro com crianças e adolescentes entre 10 a 19 anos, oficinas essas que acontecem duas vezes por semana. O projeto foi elaborado também com o intuito de levar para essa comunidade carente algo que lhes possibilitasse a descoberta de outras direções e opções de vida como o teatro.
     Aproximadamente nove meses exerço o trabalho de monitoria com uma turma de faixa etária de 12 a 15 anos, é uma experiência que me constrói.

     Na atuação de meus alunos através de improvisações teatrais eles são livres para escolherem as temáticas a serem apresentadas, geralmente trazem situações de seu cotidiano tais como, gravidez precoce, violência familiar, drogas e etc., uma característica do teatro do oprimido. Utilizando jogos teatrais que estimulam a criatividade, imaginação e emoção, geralmente os alunos representam o que são e o que veem ao seu redor, eles mesmos elaboram seus diálogos e suas ações, algumas vezes os monitores sugerem falas que instigam a problemática a ser resolvida, ou seja de certa forma fazemos o papel de “coringa” como sugere Boal.

     Outra característica é em relação ao espaço, as aulas acontecem em um salão dentro de um centro de referência e assistência social (CRAS), onde também é realizadas apresentações, o grupo apresentou-se em pátio de escola e em teatro, porém tentamos sempre trabalhar essa ideia de que em qualquer lugar pode-se fazer teatro, “inclusive em teatros” como diz Boal.

     Trazemos também como característica do teatro do oprimido a questão que não estamos preocupados em torna-los atores e sim que aquele espaço onde eles fazem teatro, possa ser um espaço onde eles têm liberdade para se expressar e colocar pra fora todas as suas “opressões” para que de alguma maneira encontrem possíveis soluções para o enfrentamento de suas realidades.

     Trabalhamos também questões de autoestima e autoconfiança no sentido de que é possível eles transformarem usas realidades. Essa é a maior construção para quem observa, no caso os monitores e para quem pratica os alunos, sendo esse um dos principais objetivos de Boal, a construção de sujeitos que tem consciência de suas realidades e agentes transformadores de tal.

     Não temos a intenção de realizar espetáculos no projeto “Quilombo”, mas proporciona-los experiências aos quais eles possam construir suas realidades e não aceitar as que lhe são impostas como a de criminalidade, violência, abuso etc., o importante é apontar novas perspectivas.

     É um trabalho compartilhado, solidário e gratificante, pois essa é a relação que estabeleço com a Poética do Teatro do Oprimido de Augusto Boal e encerro com palavras deste autor ao qual é uma das razões que me inspira a estar em trabalhos como o projeto Quilombo.
"Ser cidadão não é viver em sociedade, é transformá-la."
(Augusto Boal)


Referências Bibliográficas

TEIXEIRA, Tânia Márcia Baraúna. Dimensões Sócio Educativas do Teatro do Oprimido de Augusto Boal. Tese de Doutorado, 2007.

BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. 5ªEd. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2002.

BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. 8ªEd.  Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2008.

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